22/11/2009

Entrevista - Um Retrato sobre as vivências sociais


Não há como negar que os programas de televisão estão cada vez mais apelativos. As adolescentes estão iniciando a vida sexual e engravidando cada vez mais cedo. É difícil, tanto para os pais como para os professores, discutir sexualidade com os jovens. O Psicólogo e terapeuta sexual Luís Carlos Neves fala, nesta entrevista, como os pais e professores devem lidar com a sexualidade e explicam as mudanças na vida sexual dos jovens.


Grupo – Pesquisas constataram que as adolescentes estão engra-vidando cada vez mais cedo. A quê se deve esse fenômeno?
Entrevistado – Pesquisas recentes têm mostrado que a iniciação sexual das adolescentes está cada vez mais precoce. Isso se deve a uma série de fatores de ordem fisiológica, psicológica, educacional e social. Tem se observado, com o correr dos anos, uma antecipação da menarca (a primeira menstruação) entre gerações subseqüentes de adolescentes. As causas não estão estabelecidas, apenas o fato é constatado.


Grupo – As aulas de orientação sexual dadas nas escolas são eficientes?
Entrevistado – As aulas de educação sexual dadas nas escolas infelizmente não alcançam os objetivos desejados. O primeiro aspecto é a falta de preparo dos professores quanto aos conhecimentos da sexualidade tanto das crianças quanto dos adolescentes, esbarrando não somente na falta desses conhecimentos, como também nas próprias dificuldades em relação ao assunto, o que impede a abertura da mente aos tão variáveis e sutis aspectos da sexualidade. Ter bem resolvida sua própria sexualidade é condição indispensável para que os mestres possam influir positivamente os alunos.


Grupo – Como deve ser essa orientação sexual?
Entrevistado – O ideal e desejável é a parceria família-escola. Em casa, através da atitude afetuosa entre os pais, a criança vai aprendendo como um casal se relaciona. Esses pais também devem ser pais “perguntáveis”, que respondam com naturalidade às perguntas de seus filhos em relação à sexualidade.


Grupo – Estaria havendo algum excesso de liberdade influindo sobre as práticas sexuais dos jovens?
Entrevistado – As novas gerações de pais altamente reprimidos não estão sendo capazes de estabelecer limites adequados. O excesso de repressão de sua geração deu lugar a uma liberalidade na educação dos filhos, não só do aspecto do comportamento sexual mas do comportamento em geral. Parece que o temor de passar aos filhos o excesso de repressão sofrida deu origem a uma dificuldade de impor limites, colocando o prazer como algo que não deve ser reprimido, mas até incentivado. A frase comum é: “quero dar aos meus filhos tudo aquilo que não tive”. Não apenas em posse, mas em tudo. Paralelamente a isso, o surgimento de métodos anticoncepcionais mais eficazes e mais disponíveis vem dando aos pais a falsa sensação de segurança, onde imaginam erroneamente que a possibilidade de uma gestação não planejada é remota.


Grupo – Há outros fatores causando excessiva liberalidade sexual?
Entrevistado – Os pais desconhecem totalmente o perfil psicológico dos filhos adolescentes, com seu pensamento mágico, o sentimento de onipotência, a necessidade de auto-afirmação como homem e mulher e a impossibilidade de planejamento a longo prazo, que faz com que a anticoncepção preventiva quase inexista na adolescência. As religiões de modo geral estão perdendo força para estabelecer os seus padrões de conduta, não só pela marcante influência da mídia como também pela falta do reforço positivo dos pais, também afastados desses padrões. O exemplo clássico dessa não aceitação pelos pais das normas de vida estabelecidas pela religião é a não utilização por eles próprios das orientações relacionadas aos métodos anticoncepcionais.


Grupo - Na visão de profissionais da área, como a sociedade lida e vê a sexualidade atualmente?
Entrevistado - Sem dúvida, a sociedade reprime e libera ao mesmo tempo, é como se tratasse liberando e privando. è um descompasso de idéias e uma ampla e densa mistura de valores que acabam confundindo os jovens. Talvez por isso, muitos deles nem saibam de fato o que é a sexualidade, mas não há como negar que eles sabem o que é sexo, já que muitos deles o fazem.


Grupo - Em sua visão, qual deveria ser a abordagem social para a discussão da sexualidade?
Entrevistado- Deveria ser mais educativa do que necessariamente de punição. Se ao invés de gerar preconceitos, as esferas sociais se limitassem a educação das melhores formas de se descobrir e respeitar a sexualidade humana e suas diversidades, certamente já teríamos caminhos para haver uma mudança. Penso até que desde as séries iniciais as crianças deveriam ter um acompanhamento psicológico para se trabalhar estes temas, combatendo assim os preconceitos desde cedo e enquanto é tempo.

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